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Conversas P'ra Mesa com Maria Roriz

Nutrição Desportiva com Jovens Atletas


Quem é a Maria Roriz?


O meu nome é Maria Roriz, sou Nutricionista, Professora e Mãe, tudo com grande orgulho. Sou natural do Porto, licenciada e doutoranda pela FCNAUP, onde tenho também o privilégio de dar aulas. Há 10 anos comecei a trabalhar com jovens atletas, sendo atualmente responsável pelo Departamento de Nutrição do FC Porto Dragon Force e co-autora de dois livros sobre a área. Adoro crianças e adoro criar jogos e atividades para desenvolver com crianças (e com adultos também). Acredito que jogar e interagir socialmente desta forma é meio caminho andado para nos relacionarmos uns com os outros, de forma divertida e subtil. Gosto muito de cozinhar e receber a minha família e amigos em casa, acho que isto é o mais importante da vida.


De que forma a nutrição pode influenciar o crescimento e desenvolvimento de jovens atletas?

A idade pediátrica, nomeadamente na fase “peri-pubertária” (vulgarmente conhecida por pico de crescimento), é muito exigente do ponto de vista do crescimento de diferentes tecidos do nosso corpo, o que tem como consequência um elevado custo de energia e nutrientes. Se juntarmos todo este acréscimo de necessidades, que acontece com todos os jovens, às necessidades (também de energia e nutrientes) que advém de 3 ou 4 treinos por semana mais um momento competitivo, depressa percebemos que se não existir uma ingestão alimentar que permita compensar a energia (calorias) e a reposição de nutrientes gastos no exercício, não teremos a energia e nutrientes necessários para os processos fisiológicos de crescimento, podendo  comprometer o seu sucesso.

Adicionalmente, não pensando apenas na fisiologia e metabolismo, mas também na parte comportamental, bons hábitos alimentares adquiridos numa fase mais precoce, como são a infância e adolescência, são hábitos em princípio perpetuados para o futuro. Assim, um jovem que já conheça e adote hábitos alimentares promotores do seu rendimento desportivo nesta idade, será um atleta adulto certamente muito mais focado nestas questões e eventualmente com maior sucesso desportivo.


Sente que os pais e os treinadores percebem a importância da alimentação e nutrição no mundo do desporto?


Sinto que estamos anos-luz melhor do que há 10 anos atrás, mas ainda temos margem de progressão. Acho que os pais estão muito mais sapientes da importância da nutrição de forma geral, e mesmo da nutrição no contexto desportivo, e já conhecem relativamente bem o que são hábitos alimentares saudáveis. Mas não conseguem ainda implementar estes hábitos em velocidade de cruzeiro. Noutras palavras, sabem o que devem fazer, mas não como devem fazer. E isso é exigente para nós, Nutricionistas, porque já não nos procuram para ouvir o “bê-á-bá” da alimentação saudável, eles já sabem que é importante consumir sopa e legumes no prato, mas procuram-nos para que lhes ensinemos como é que podem concretizar isto, se os filhos se recusam a provar. O Nutricionista, na minha opinião, tem o trabalho dificultado de ter de ser criativo e muito sensato para realmente conseguir ser uma ajuda.

No caso dos treinadores, também já estamos bem melhor, mas a forma como valorizam a nutrição depende dos seus contextos de aprendizagem e de intervenção. Regra geral, parece-me que quem já trabalhou com Nutricionistas e teve boas experiências, estima e credibiliza mais esta área.


Tendo em conta a sua experiência na Dragon Force que dinâmicas relacionadas com a educação alimentar sente que tiveram mais impacto nos atletas?


Sem dúvida tudo o que seja muito prático e baseado na aprendizagem empírica. De todas as dinâmicas de educação alimentar que desenvolvo com todos os atletas, sejam crianças e adultos, o contacto com os alimentos, na sua preparação, confeção e degustação (em grupo) é o que funciona melhor. Tenho o privilégio de assistir a coisas incríveis, de como é exemplo crianças que nunca comem hortícolas (os pais assim partilham) comerem 4 ou 5 hortícolas diferentes num lanche e dizerem que adoram e estão muito saborosos.


Sabemos que as formações dos principais clubes em Portugal já têm integrados na sua equipa nutricionistas, no entanto, quando olhamos para clubes mais pequenos e, principalmente, em modalidades sem ser o futebol a realidade não é a mesma. Como acha que podemos mudar esta situação?


A Nutrição é uma área muito jovem, em comparação com outras ciências que servem o desporto, por isso é normal que estejamos a percorrer um caminho longo que atingirá a meta  daqui a uns anos, estou em crer. Na verdade, diria que já estamos na segunda metade desse percurso. Mas parece-me importante salientar que, de acordo com a minha perceção deste meio, vários clubes não conseguem ter Nutricionistas nos seus escalões de formação, como não têm Psicólogos e outros profissionais que adicionam muito ao desporto, por meras razões de oportunidade financeira e não propriamente por desvalorização das áreas. Resumindo, acho que não está a 100% nas nossas mãos (nossas, dos Nutricionistas, claro) mudar isto, porque não interferimos diretamente na gestão financeira de clubes ou instituições desportivas, mas o que está nas nossas mãos é continuar a representar com credibilidade, respeito e dedicação a nossa profissão. Reitero que, quando alguém trabalha com um excelente Nutricionista, seja treinador ou fisioterapeuta ou gestor, facilmente entende que se poderá tornar uma prioridade incluir esta área no serviço prestado aos atletas, mesmo que se tenham de fazer alguns ajustes do ponto de vista financeiro.


Quais as maiores dificuldades na alimentação dos atletas hoje em dia?


Diria que a maior dificuldade é o fácil acesso a alimentos e refeições que não são equilibradas. Se recuarmos um pouco no tempo, o que víamos era os jovens almoçarem em restaurantes locais (claro que aqui as escolhas não eram as melhores) ou em casa, quando não gostavam da comida na escola. E se os restaurantes fosse muito longe ou tivessem muita fila, eventualmente podiam desistir da ideia. Hoje em dia é demasiado fácil encomendar comida e, naturalmente, os jovens atletas não optam por refeições equilibradas. O mesmo raciocínio é válido para os atletas adultos, encomendar comida é muito rápido e mais fácil do que cozinhar. Por isso, acredito que o trabalho do Nutricionista aqui não será naturalmente achar que pode “proibir” o uso das aplicações destinadas ao efeito, mas sim educar os atletas para as melhores opções, já que vão encomendar comida e vão.


Qual é o maior desafio que sente neste momento nesta área? E que perspetivas tem para o futuro?


O maior desafio na minha opinião, nesta e noutra área qualquer da Nutrição, é o combate à desinformação. O Nutricionista tem de competir pelo espaço da informação e propaganda nas redes sociais, aproveitando ao máximo para combater a desinformação e mitos divulgados por quem não é Nutricionista. Fala-se muito sobre Nutrição, o que é bom, porque há uns anos atrás era esse o desafio, falava-se pouco e as pessoas pouco ou nada queriam saber, mas o problema agora é que se fala muito e mal. E a educação alimentar deve ser feita também nas redes sociais, a ciência assim reporta, mas nós, Nutricionistas, temos de aproveitar este espaço para promover a confiança e credibilidade na nossa profissão. Só que é desafiante, claro, é preciso tempo e nem sempre temos esse tempo, com tudo o que temos de fazer. Mas acredito que cada vez mais deve fazer parte do nosso tempo de contacto com os atletas a preparação de materiais e post informativos para partilharmos com eles, nas diversas plataformas e redes sociais.


Obrigada, Maria!


Comida que podia comer para o resto da vida: Arroz com qualquer coisa, desde que não acabasse o arroz, por mim tudo bem!


Livro favorito: Por Quem os Sinos Dobram de Ernest Hemingway


Viagem de sonho: Ver uma aurora boreal (na Islândia ou Noruega, que são dois países que adorava visitar)


O sonho que ainda falta concretizar: Conceber e implementar uma ideia de negócio





Se quiserem conhecer melhor a Maria, sigam-na em @mariaroriznutricionista

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